terça-feira, 27 de março de 2012

O contador de barcos












Ela via no reflexo das águas daquele mar
Tantas embarcações...
Barcos de pesca, navios
Até mesmo uma canoa
Dividindo as águas...
Ondulando e desfazendo o céu que invertia o mundo...
E fazia desses barcos quase aves,
Distraindo-se a olhar de um para o outro...
Até que veio a surpresa...


O misterioso que navegava escondido como os peixes,
Num outro mundo...
Como  no mundo do céu onde desenham as nuvens paisagens,
Ele, um submarino.
Despontava mágico e lento...
podia ver todos dos navios a contemplá-lo:
Capitães, marujos, cozinheiros tripulantes.
Mágico como uma baleia...


Não era nada. Nada existia.
Nem capitães, nem tripulantes, nem marujos...
Os navios eram alguns restos de lixo flutuando.
A canoa, uma casca.
Uma lata de cerveja que não tinha afundado direito...  o submarino...


Tudo aquilo era apenas num esgoto da favela
No mar, puro mar da imaginação duma criança...











O Canto do Corvo ou: Kafkiana nº1







Eu descia, descia em curvas...
Com toda aquela gente...

E nem sabia onde dariam todas aquelas portas
Já não importava em que mundo sairia

À frente, também descias, descias com o mesmo silêncio...

E a cada degrau, badalava, badalava permanentemente:
_ Culpados

quinta-feira, 22 de março de 2012

parole

qualquer palavra pode pesar muito.
ou ser leve...
ser um vapor ou uma semente emplumada flutuando...
pode ser mais que dois sentidos.
ser todos os sentidos que cantam nela,
e pode ser o não dizer, sendo mais que o silente...
pode ser os contrários num beijo entre o falso e a verdade
como diante do espelho
pode ser a palavra bem dita
a força ou a alma
o tom ou o sussurro
o inominável...
desses faladores, faladores,

quarta-feira, 21 de março de 2012

série fakebook nº1





Sejamos honestos, está tudo errado. É quase tudo em vão
Sejamos honestos, não precisam de nós todos os dias. E tanto disso
tudo parece ser desnecessário...


Sejamos honestos ou trapaceemos logo de vez. Embora sabendo da
trapaça... pois isso não haveria como esconder de nós mesmos, ou será que
aceitamos a loucura?


Sejamos honestos, sabe quando seremos realmente honestos?
Talvez nunca...

























sábado, 17 de março de 2012





Poesia,
Manto que envolve,
conforto estranho que cobre e deslisa
cúmplice nos íntimos percursos do corpo. 
Corpo que nela encontra voz,
encontra uma boca, 
instrumento de virtudes e de zombarias,
de cânticos e gritos,
de silêncios esculturais...

poema, um outro que é também o próprio poeta,
esse tal que se promete além,
sem ver a si,
tão qualquer, tão comum por fora e nos lugares
Este se envolve nessas páginas como no manto.
Essa ilusão que cerca, 
que retorna,
que gira sobre si,
assim como a terra
E não evita suas estações

Corpo retorcido, controverso
transpirando a alma que é sempre mais presente
essa que é sempre a que espera,
que sucumbe ante a integridade das formas.
Alma, água capaz de fazer os seres beberem-se
sedentos de essência nua...
Capaz de apaziguar a guerra da insatisfação e do desejo,
Com silêncios de derrotados e sorrisos de estúpidos delírios,
de novos vazios
esses nadas que se manifestam
e conhecemos pouco de seus tamanhos...
estes sempre estranhos...







quarta-feira, 14 de março de 2012







poemas tergiversam o olhar
uma cruel brandura de inocentes famintos... 
um romper de colunas
de pernas que sustentam o credo das coisas
na vertigem que se entrega em êxtase a uma dor amiga


queda...

nesses  braços que tornam leve essa ferida










quarta-feira, 7 de março de 2012

Conto de fados



"Ele morava na mesma rua"
E ela tão nua e deserta
Tão suave como as curvas dos trilhos
Ébrio, em desalinho, comigo

Cada esquina é um caminho
Dando voltas de canção

Encontro muita gente
E sou livre, como um cão das ruas
Um coração sem dono
E pulso no peito da cidade...

Não é preciso amar
É preciso viver como as ondas que marejam o Danúbio
É preciso saber morrer como as folhas desta estação
Sim, é preciso cultivar
Amar não

É preciso encontrar a perdição
Ter estômago
aceitar a razão dos atos
Desvendar a feição das cenas
Matar a personagem e descobrir o autor
É preciso saber a dor
Morder a maçã e saber o gosto da abóbora
Mas, já são 10:35, minha carruagem vai partir

Mas é preciso guardar o encanto
O enquanto
Voltar e rir
Quando lembrar
Quando partir...

(Linz, 24/08/07)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Rosa de Chumbo






Leve... caía a pluma ...
Olhando, me sentia
Queria pluma, queria folhas...

Entre os eucaliptos altos como montanhas
Caminhava...
E leve de amor e alegria
Sorria imerso ao sol abrandado pelo bosque

Incontáveis formiguinhas
Eu esmagava
Pisava em seus caminhos
Umas morriam
Outras ainda ficavam sem entender, insistiam no mover
Sequer me julgavam

Na cegueira leve do amor,
Na inocência do amor que julgava não ter chão
Passos pulsando, contente sem rumo, ia

Bem depois daquela hora
Quando a lua bandeirolava entre os ramos
Um aroma frio, caia leve
No meu rastro
Ali, ainda algo movia... breve