quinta-feira, 16 de outubro de 2014

bilhete






Lá vem o bonde
com seus metros de ferro e bronze
estridente e forte
glissando comas de sem tons na escala dos trilhos

esperam-no vidas paralelas
como um amontoado de livros e histórias cruas
o velho espera o bonde
a mala, a camisa e o doce do menino

Lá vem vindo esse bonde
para o desespero
sem dar tempo nem se importar com quem vai entrar
bastará ocupar os acentos
os limites das cargas e  das gentes
e seus pesos, concretamente

Lá vem o bonde
para atropelar qualquer sonho
imponderável
na razão do horário das 13:45
atropelar, no exato instante em que ele parar,
o doce, as cores das roupas e suas histórias sujas
em silêncio
e para qualquer desejo a bordo
parte imediatamente
e convence de que é melhor não pensar nisso
pois o preço será igual para qualquer nome