quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Abarcar




É preciso urgentemente um barco
sem descobridores

veloz e amplo pra recolher a vergonha dos mares
para acolher as lágrimas
essas mil gotas do alto mar

um barco que abarque
a esperança e o infortúnio

Não o barco de Caronte
sem farol e sem porto
no qual naufraga da humanidade

um barco sem a solidão do jangadeiro
sem a odisséia e as estrelas em cruz
para cruzar os mundos, não os braços
para reinventar a geografia
pra expandir o olhar e o sentimento


é preciso um barco, uma barcarola
feito canção de ninar
que livre do pesadelo
e da tempestade humana

um barquinho de papel
que possa, na travessia do profundo,

flutuar...