quarta-feira, 4 de maio de 2016

À minha volta




é preciso, depois de um bom tempo
voltar ao meu lugar
antes que eu vista uma outra roupa
que me confira um ser além do meu
uma roupa que sempre será oca
por mais que a ocupem
por mais que a passem
de geração a geração

voltar, talvez mais pesado de pensamentos
de saberes com permissões outras
com vontades envelhecidas
com a suspeita sobre as novas possibilidades
e com a dúvida se me cai bem por dentro
tentando aceitar ser isso merecido

inevitável, porém, o desejo rendeiro
que além do necessário, celebra
invenções de tramas em minha carne
corpo que se entrega feliz ao vestido das águas
a uma outra pele e a todas as texturas
para o frio
para os olhos
para o sol

ter em volta o desvelo
não saber onde é a ponta do fio
na arara de sonhos
escolher roupas leves
que não me tornem tanto

voltar com todos os cabides
pendurados nos ombros erguidos
com a alvura de seus linhos
cruzando os caminhos
para o nu tamanho escondido