domingo, 25 de setembro de 2016

Dois mundos





te passo nessa travessia
com olhares estradeiros
ruminantes e cansados

miro esse sombreado
e deixo o vento suspirar no rosto
alívios breves

os silvos na galharia
deslizam como dedos nos cabelos

meus pensamentos, estes rebanhos soltos
precisam descansar em tempos
também meus joelhos, rotos
desta caminhada

depois me erguer nesta campina
quase como um tronco
mesmo ressequido
como se tivesse cem anos passados
e tudo esquecido...

dois tempos perdidos
dois mundos, lado a lado
destemperados
guardados na quietude
entre a árvore e o viajante
entre o ali e o adiante...









sábado, 3 de setembro de 2016

Temblor





e foi escrito nas paredes
estes livros abertos
com tantas histórias
estes livros fechados
de memórias desbotadas

muitas sombras dançaram levemente
desformes, se misturaram
sem que possuíssem as cores
pulsando seus pincéis 
na inconstância dos dias claros
e nos embalos dos luminares noturnos 

muitas portas se abriram
para além do quarto
para dentro e para fora
para as ruas da cidade
outras se fecharam
e perderam os trincos

vida sem teto
com cores de frio e calor
casa do acaso
palavras varridas pelo vento

as sombras dançam agora nos becos
umas sempre no mesmo lugar
no mesmo caminho
outras breves manchas sujas
nas roupas do andante

se assombram corpo a dentro
no desmoronado instante
na pluma das mãos tangidas
um espalmar florido 
dum entulho sobre o papel