sexta-feira, 26 de julho de 2013

Tempos modernos




Não há tempo...
Nem há sujeito na oração que me descreve
Senão discurso em atos armados de força
De certeza e muitas necessidades

Não há dúvida
Nego a permissão dela
Aprisiono, ou a guardo
Pois o menor assunto a substitui
Instantaneamente...

Fazer, primeiro, sentir, depois
Agir, primeiro, sentir, depois
Primeiro comprar clipes para levar para o trabalho, sentir depois
Primeiro cuidar do irredutível, sentir depois
Primeiro tudo que acaso se encontre no cotidiano
Troca-se qualquer incerteza pela necessidade de acordar
Ou simplesmente pela necessidade de tomar um café antes de sair
Troca-se a fraqueza pelo que é preciso, sem se importar com o que seja preciso
Troca-se a contemplação pelo urgente ou pelo primeiro anúncio que lhe aparecer ao alcance da vista

Depois, o sono, necessário ao corpo, cuidará de silenciar o sentimento... de forma  indolor...




segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sinfonia




A música tornou-se um enigma
Como palavras recitadas
Sem afeto, sem verdades infantis
Uma armadilha impenetrável

Está ali e é ausente
Como quem não mais sente amor
E vive ao lado
Injustificável presença
Com dedos que tocam as grades da vida
Prisioneiro distante...

Instrumento mudo do ser
E sua melodia é tão simples
Tão perto
E tão sua...

sábado, 13 de julho de 2013

Ratio essendi






é um homem
sem muito o que dizer

observa as formigas em marcha
e uma velha galinhota adormecida

manhãs que se rompem com a força de muitas flores
como o mover do mundo
num pasmo silêncio
a ocupar os conceitos
antes que lhe venha o nome

Deve ser um homem
Quieto e sem dizer nada
Que tem a si, sem se saber

Num caminho possível
Que ainda é seu
Apenas sentindo...







domingo, 7 de julho de 2013

Besta fera




















se você volta
tudo é possível nesse mundo que pode
ainda que te pode, um mundo em volta
vence se tens a coisa que te veste e rodeia
se volta sua candeia
se tens seu caminho
mesmo sozinho teu riso floreia
se esconde seu coração
debaixo do gibão
na força de seu sentimento
nem sol, nem fogo ou luar
nem mesmo a hora fria
na andança sem companhia
como desconhecida fera
nada te muda o acento
se você volta
se você voltar












sábado, 6 de julho de 2013

Repente





centelhas caídas
amarelas
ainda com suas asas plenas
flores incandescendo a grama
intocáveis, mudas
no meu olhar jardineiro

flores, ainda
aos pés do violeiro
de camisa amarela
de chapéu
meu repente
caído em canto

se as flores olvidas
não sabes o caminho
no desapercebido dos teus pés

Dançam,  minhas horas
Sobre os amarelos caídos
No dez pés, beira-mar