terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Entulho






Pedaços...
Apenas e enfim...
Quando me ensinaram alguma coisa
Quando me contaram alguma estória, 
Alguma norma, algo de útil
Algum encontro, que não soube como guardar
Mas permaneceu uma parte, um fragmento mínimo na memória
De alguém que dividi a mesma sala na escola e não me lembro o nome
De um monte de assuntos dos livros regulares
Das lições infindáveis que me roubavam as manhãs de sol
Das infindáveis banalidades de uma vida

E tudo que julgo saber são pedaços
De sabedorias maiores, de maior campo
Enquanto fico na sela de meu saber
Rodeado de pedaços de sentidos
Sentidos velhos, esquecidos, como os instantes daqueles, presentes
Descontinuidades mutiladas pelo tempo
Que não há volta para elas, ou simplesmente falta o olhar para elas

Mesmo os pedaços que julguamos inteiros
Até que sejam mutilados pelo espaço de um dia, ou de muitas eras
Mutilados por uma vida nova
Por alguém que mutila, ou nós mesmos mutilamos
Pois somos feitos de carne e lâmina
Feitos do primeiro corte

Carregamos esses pedaços
Como vindo de uma feira
Passeio cobiçoso para matar nossa fome
Ou apenas nos enchemos de incabíveis
E sabemos do seus pesos pela marca da roda no caminho
Nessa galinhota singela
No retorno de casa
Nos calos das mãos que se escondem nos olhos
No vazio e no caminhar
No abraço do sono
Depois de uma jornada












quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"Poi piovve dentro a l'alta fantasia"





É como no sertão a chuva
que nem sempre lá desmancha
viver de esperar, de guardar a fé
a sulina da demora estala
olhando se no céu um ramiado de nuvem
daquela que vem no vento norteado bem querer

o coração trovoando de medo e de alegria
de ver a chuva beijando o chão
chovendo me beija
inunda minha morada até as vazantes
um cheiro que invade a casa pelas janelas
um barulho de incontáveis alegrias
cristais alados brincando no telhado

um calafrio no rosto
um arrepio nos braços
e a roupa toda molhada
pois ela me pegou
no meio do caminho de casa
quanto mais corria, ela me abraçava
quanto mais sorria, ela me molhava

e depois no estio
uma calma fazia
todo me recolhia
porque, ela agora
o sertão guardava...