domingo, 29 de setembro de 2013

Do incerto




tanto...
o incabível...
e a força que acolhe
tão extremo é o centro e tão perto esse horizonte
sem solução... (é a fórmula que desenha os lábios)

sábado, 28 de setembro de 2013

Sentido




Não terá valido a queda, nem a dor, nem a vida
Ou qualquer alegria
Se eu for o mesmo em pensamento, sempre
Nem terá valido meu ser
Se eu não for o mesmo sentimento








segunda-feira, 23 de setembro de 2013

à Ramos Rosa






Inevitável...
Tudo que é para sempre
E o que sempre se finda, eternamente...
A vontade de apalpar as nuvens
De parar um pouco o pôr-do-sol, róseo e quente
Como ficar na água morna do rio um pouco mais
Antes de tremer com as estrelas
Ou ranger com os grilos em seus cristais de sons
Inevitável é dissolver-se na terra
Como a estação das águas
Inevitável o esmaecer das flores no campo
A estiagem
E o fechar das pétalas dos botões dos olhos
No inevitável sono do poeta...






quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Pano caiu







Se o pano caiu
Que importa?
Se já sabia do teu corpo
Não importariam as tantas roupas
As tantas modas a encobrir a sua pele
A te livrar de mim, do mar
da liberdade dos ventos do planalto
Da terra, do sol
Se o pano caiu

Se mesmo assim tu és tão vestida
Tão escondida a declarar a nossa paz
Nossa união
De poder ficarmos juntos
Mas, que vale assim tão nulos?
É o mais longe onde cada um pôde chegar
O mais distante entre o verbo e o pensamento
Entre a concha e a torre
O desejo e o lugar
Um imenso vazio
Se o pano caiu





quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Abraço





Um dia não é como o outro
Uma manhã  que já é tarde
Ouço seus passos e seu coração tristes

Te puseram facas em seus dedos
E não podes acariciar os seus
Pois cada gota sua abraça tanto aos dilacerados

Beijo suas mãos, lentamente
Abraça-me com força
Até o fim desse dia




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Dia





Tudo dará certo
Quando vejo o clarão do dia
Perto, como um amigo que não vejo
Mas que sei de sua companhia

Darão certo as loucas investidas
Que não sabem os limites dos caminhos
Que esses passos tão descalços encontram rumo
E não sabem mais parar

E é mais certo o que não cabe em tinta
E sinto assentado e mudo sobre o corpo meu
A carne e o escudo
O que se lança e o que me cai
A água e o vinho amado aos teus pés

E sempre será mais 
E ainda além do que se possa conhecer
Na vida
No amor
E num só dia







sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Um menino carregador






Nossas mãos não carregam bombas
Para as olharmos e imaginarmos serem zeppelins
Como peixes flutuando no mar azul
Nadando sem rumo e sem causa

Nossa casa nos conforta
E suas paredes não são trêmulas
Nem se rompem sobre nossos corpos nus
Para vermos o lado de fora

Nosso dia se divide em partes boas
Como dividimos o pão que não nos falta
Nem misturamos o sol com a noite
Nem o sonho com o pensamento

Nossa vida é leve e boa
Mas não tão leve quanto os anjos
E suas penas inúmeras
fazendo brisa no rosto do menino

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Pessoa



Te vejo
Tua sombra
Pessoa que caminha
Teus passos em fuga de um destino  dado
A sorte com rédeas
E tu, errante

Te vejo só
Entre as gentes
E tu dirias a todos
A cada um
Como dizes a ti e às pedras
Com a voz  deles, perdida

Te vejo sumindo
Na paisagem que te ensina a viver
Incansavelmente...
A misturar-te com as sombras
A forma tua
Lá, distante

Te vejo agora
Quando não mais estás
Agora que já entraste no mundo
Em cada parte que vejo
E temo ser tu, meu olhar
Meu desejo
E mais ainda,
Seres apenas eu



foto de Adolfo Urrutia Díaz

domingo, 8 de setembro de 2013

Janela Azul








Essa janela é pequena
E quer ser a janela do mundo
Essa janela é azul
Mas não dá vista pro céu, nem pro mar
Janela incerta e duvidosa...
Não define a paisagem
Não posso me sentar nela, nem dar-me aos cotovelos
E ter meu olhar aberto, mais que ela
Nem entra o vento com o ar de fora
A moça não espia
O menino não te salta através
Não se ouve o "Ô de casa"
Nem passa água do balde, para o seresteiro
Janela do mundo
Dos espiões
Da inconstância tétrica
O quadrado, redondamente enganado
Janela dos pegadores de ratos
Gatunos, dedo duros
Essa janela que cuspo e como
De Janeiro à janela

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Meio da noite




O caos me põe mais acordado
E tudo é mais claro no meio da noite
Claro demais e inquisidor
Desconcertante
Direto como água que cai
Sendo esse todo o movimento
Entre a incerteza e a rejeição da água

O silenciar-se é um voo de incontáveis planuras
Com necessária destreza
Gritos, e não canções
Canções que voam longe demais
Demasiadamente dentro desse abismo humano
Que olha a estante, magna e decadente
De muitos pilares envelhecidos e rotos
Que não me confortam como a cama
Vasto mundo da cama
Sábia e professora
Sem métodos
Sem regras, mas com alguns poucos pensamentos
Até que venha a manhã
E me ponha um compromisso
Já que tenho mais o que fazer...