quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ma Vlast







me dizes, enquanto caminho por seu rosto
enquanto bebo em sua boca cada palavra

te ouço, enquanto te habito
sem saber em que língua tua forma me fala

me perco, nesse mundo inteiro
em cada ponto que se inquieta o olhar meu

volto, e a compreensão me cala
me exila ensurdecido

e saio a cantar a minha terra
a minha falta
o meu lugar

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Lunas





me roubam a  lua cheia
impiedosamente, de meu peito
sem devolvê-la ao céu

apagam com cortinas argênteas
o rosto que contempla a noite
rochedo triste que tenta desmoronar-se no vale
até o lago

pele de mica e olhos de cristal
da gruta onde nunca seca a fonte
do mundo interno
que liga as águas como veias da terra
por onde flui o sangue errante
que atravessa os tempos
com a sede do corpo

essa lua que se esconde
como olhos fechados
um calor frio
o peso que mergulha fundo
embaralhando o espelho das águas
a inconstância estremecendo
até que retornes, plena
como o sol e o sorriso
até que se possa ver de novo
a iluminada





sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

travessia




a vida se nos assenhora
inteira em todas partes nuas
brandamente, generosa e bela
torna errantes nas travessias do presente
no tempo mínimo e na eternidade
no além que nos habita como um horizonte
calmo e imenso
esse deserto, como um lago e suas ondas lentas
grãos vaporosos ao vento
vaga como nessa mesa os pensamentos
em caravana de versos naufragados
no extremo da gota e do grão
da areia e da neve
do impossível que nos atreve
que nos tece um bolso
que nos cabe as mãos
que nos guarda dentro
o tatear de lírios
das mínimas parcelas
o nosso moinho
o nosso pão