domingo, 29 de junho de 2014

sem mais perguntas...





te escrevo pra mim
ensinamentos tortos
para servirem de mapas
pra não temer o longe do desalinho

te guardo incertezas em garrafas
e escritos roucos da câmara do meu pensamento
sonhando encontrar as pedras de tua ilha
novo mundo meu

te busco com a sede de papel caindo n'água
no inevitável extremo da falta
o caminho de volta
que me repõe no ninho da vida
sem mais questões
porque elas se encontrarão mais que satisfeitas
quietas e cúmplices em silêncio


sábado, 14 de junho de 2014

Inaudito




a carga e o carregador
a posse e o possível
o tocador e o pedreiro
a parede branca, o quadro
o esquadro do sensível no olhar do morador

um sabor que passa
um poder que pode
a roupagem do corpo alienante
os riscos e as linhas
tramas de luvas de vinho
o cálice
a cena e a ausência do ser
a gaiola de ouro
que não sustenta o desejo
vergado em metal
moeda do silêncio

o vendaval e as roupas secas
o voo dos pés
o canto da cantiga
o impossível
o sonho
a casa vazia
o peso da pena
alma discreta
silente mar



sexta-feira, 13 de junho de 2014

Arreios



o dia se encerra mais uma vez
nos tempos maduros
num caos que teme se reconhecer

novo ciclo, mais uma volta
carrossel com cavalinhos do apocalipse

um dia solto seus arreios
como os devaneios intimamente nos soltam pela madrugada

e vou querer ouvir seus passos
sem contá-los
sem ritmo
no irreversível 

sábado, 7 de junho de 2014

Armadilha da memória





morra meu pensamento e deixa meu corpo viver
me liberta desse mundo incorpóreo
me solta
me ensina o esquecimento e a ilegibilidade da vida como matéria fundamental
deixa-me ir voando sem campo de pouso
envolto no que conduzir
correnteza de sentimento

não me ponha longe de onde vou
não me exile do momento nem do lugar
nem me diga das coisas
já não me traduzem estas línguas que aprendi

te digo a mim
me devolve
pra eu saber chegar







segunda-feira, 2 de junho de 2014

Vantagem




a vantagem...
extremamente importante
só não pode ser mais urgente que o desejo
mas é valiosa demais por seu tempo breve

no tempo de uma dança
o caminhar é fuga desse pátio
contratempo sem volta
passos que ensinam um caminho deserto
por fora das janelas
por pisos toscos e frios
por onde se teme caminhar com os pés descalços
para não dar a face à essa verdade
e permanecer esse abismo entre os pés e o chão

mas será sempre irreversível a vantagem
que nos opõe aos outros
que nos lança como dados marcados
e não aviões de papel
sem motores nem guias

o desejo é como a carne
sobrevive e espera em seu metabolismo
sentir, é tudo o que tem
é todo o seu bem perecível
não mira o dia seguinte
é apenas em volta, perto
é o que na vida deveria conduzir
em algum momento
mas contra a vantagem
não há argumentos...