De volta...
Estou de volta
Aos poucos tudo também volta.
Voltam as ruas, construções.
Voltam as casas, paredes, prédios públicos, jardins.
Talvez voltem antes as ladeiras,
Os montes e um recorte de céu
Tudo vem para dar sentido,
Afirmar o lugar-no-mundo.
O lugar do fogão, da caixa de fósforos,
Do tapete da entrada onde sempre pontua: Limpem os pés...
Vejo o lugar na cama,
O lugar das coisas que não têm lugar.
Vejo minha casa.
Vejo até o invisível.
A estrutura ausente.
Vejo e vejo que tudo está de volta.
Meu corpo, meus olhos
Minha vida.
Menos eu
9 comentários:
" Voltar
Eu pressinto as piscadasdas luzes que ao longevão marcando meu retorno.São as mesmas que alumbraramcom seus pálidos reflexosfundas horas de dor.
E ainda que não queira o regressosempre se volta ao primeiro amor.A velha rua onde o eco disse"Tua é sua vida, teu é seu querer",sob o olhar zombador das estrelasque com indiferençahoje me vêem voltar.
Voltar...com a testa murcha,As neves do tempopratearam minha fronteSentir...que é um sopro a vida,que vinte anos são nada,que febril a olhadaerrante na sombrate procura e te nomeia.Viver...com o alma aferradaa uma doce lembrançaque choro outra vez
Tenho medo do encontrocom o passado que voltaa enfrentar-se com minha vida...Tenho medo das noitesque povoadas de lembrançasencadeiam meu sonhar...
Mas o viajante que fogetarde ou cedo detém seu andar...E apesar do esquecimento, que tudo destrói,tenha matado minha velha ilusão,guardo escondida uma esperança humildeque é toda a fortuna de meu coração."
Carlos Gardel
"Voltar
Eu pressinto as piscadas das luzes que ao longe vão marcando meu retorno.São as mesmas que alumbraram com seus pálidos reflexos fundas horas de dor.
E ainda que não queira o regresso sempre se volta ao primeiro amor.A velha rua onde o eco disse :"Tua é sua vida, teu é seu querer", sob o olhar zombador das estrelas que com indiferença hoje me vêem voltar.
Voltar...com a testa murcha,As neves do tempo pratearam minha fronte...
Sentir...que é um sopro a vida,que vinte anos são nada,que febril a olhada errante na sombra te procura e te nomeia.Viver...com a alma aferrada a uma doce lembrança que choro outra vez.
Tenho medo do encontro com o passado que volta a enfrentar-se com minha vida...Tenho medo das noites que povoadas de lembranças encadeiam meu sonhar...
Mas o viajante que foge tarde ou cedo detém seu andar...E apesar do esquecimento, que tudo destrói,ter matado minha velha ilusão,guardo escondida uma esperança humilde que é toda a fortuna de meu coração."
Carlos Gardel
* Com as devidas correções.
A dor é uma dança que sabe o compasso do meu coração.
Sabe tanger esperanças
Gritar lembranças, sabe bem confundir.
Sabe d´uma casa chamada ilusão com estranha alegria os canteiros florir.
Sabe cada passo meu
Cada cor, cada cheiro,
Cada tom de canção.
Cada peça de roupa
Sabe o corpo inteiro.
Sabe conduzir.
Sabe cada melodia,
Da filosofia, sabe o ideal.
Só não sabe que é tango
Nem se é bem ou se é mal.
"Ícaro
A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.
Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia...
Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor...
E eu levantei a face, a tremer todo:
Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo."
José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'
"Hino à Dor
Sorri com mais doçura a boca de quem sofre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar onde, como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.
Soa, como se um beijo ou uma carícia fosse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não há para nós consolação mais doce
Que o regaço de quem muito amou e sofreu.
Voz, que jamais vibrou num soluço de mágoa,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao cair duns olhos rasos de água,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar.
Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.
Em tudo quanto existe o Sofrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna imorredoira a Inspiração que passa.
É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estóico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente enublados de pranto."
António Feijó, in 'Sol de Inverno'
Entretanto, em parte alguma estará escrito que para cantar terá o poeta que embalsamar-se em dores e ais...há ainda outros sentimentos, variantes talvez, que podem acudir à imaginação...e este tango, converte-se numa busca imorredoura pelo singelo e sutil prazer!
Todo voo é queda que se deixa demorar no abraço dos ventos...
Embaixo miro as águias, plenas de planura e imensidão.
Voos que vão longe, que olham longas distâncias.
Um voo longo pousou em meus ombros
com garras rapinas e apertos ferinos.
Vindo de tão longe para Arrancar-me a alma serena.
E sem saber se é alegria ou tristeza,
Se é perda ou ventura o alçar que ascende o pobre homem
Que abismado pensa tolo estar voando...
Não sabe que adormecido caiu
Perdeu o tempo, os dias,
Bem mais que os 15 anos.
Dormiu e deu asas ao seu pesado sono, apenas...
“Ah! A que mais se pode comparar a delícia do vôo e o temor de voar?!”
Lá está o homem, ensimesmado, enviesando os olhos no céu anis e caindo na imensidão do espaço profundo... Seu olhar firma pontos numa firmeza tal, que convence a todos os seres que realmente há uma superioridade do raciocínio sobre o mero instinto inicial!
Porém, dentro de si lateja o desejo insaciável de libertar-se... Alçar cada vez mais além... Perto do sol! Mas sua mente, adorável, porém escrava encolhe-se e ao mesmo tempo as asas retesa! Num conflito árduo entre o seu Querer e o Querer Imaginado...
O maior tempo que nesta ilusão se perde há de ser o tempo da indecisão entre planar, inda que num segundo breve... Ou, por temor da queda, manter os pés no chão!
Que festival de palavras profundas. Porém, tristes. Como todas as mentes brilhantes, espero que após curtirem as dores que os tormentam, ao chegar ao fundo do poço, renasçam... olhem para a outra face da moeda e transmitam alegrias, esperança, paz e amor.
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