quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Impromptu





o mesmo caminho.
sempre o mesmo de repetidos dias
com muitos desvios possíveis
mas seria o mesmo
naquela e em tantas outras tardes

já sabia onde pisar sem levar tropeço
conhecia o melhor canto por onde ir nele
sabia onde eram as fendas, os relevos
e até as pedras que mudaram de lugar
sabia mais que as casas, das vidas imóveis

tanto sabia que não me preocupava
ia como cavalo que volta do serviço do campo
já dispensando as rédeas do vaqueiro
desarmado dos arreios
sem discordar das coisas
qualquer delas

naquela tarde o caminho já não existia
além de um pensar bem distante dos pés
era um lugar nenhum, tempo algum

a tarde não se repetia nunca
mas esse mergulho era a saída
que me fazia ser cavalo
que ouve o som de suas ferraduras
improvisando melodias na pauta da rua

ia levando um sorriso
por estar inapropriável, indômito
porque era uma estranha liberdade
o não debater-se com o mundo
e seguir apenas improvisando
bem baixinho pra ninguém ouvir








Nenhum comentário: