limpa meu olhar
pra eu descansar sua imagem
e banhar essa paisagem em águas quentes
enquanto o verão esfria
nos meus cuidados invertidose abraço os outonos
feito velhas roupas macias
decanta meus pensamentos
ao fundo de meus mares
objetos perdidos acolhidos
por areias finas e cristalinas
levita-os sobre essas nuvens lentas
os instantes são como esses pedaços perdidos
na separação das águas
elementos que buscam seus pesos
plenos de voo e queda
rastros de uma vida errante
e não sabemos mais vê-los
para o desespero dos sentidos
tendo-os todos juntos e perdidos
na esteira turva que assenta agora
se se confundem nessa constelação de cores
deste auto-retrato que se transforma
se não sabemos qual é o sol ou a lua
o minguante ou o crescente
se nos espanta o piscar de estrelas
nestes olhos cadentes
basta vermos que os céus e seus infinitos
com tantos corpos perdidos
com tudo tão longe e tão presente
é pequenino reflexo da poeira da gente