porque é no corpo que passo
me peso, gravito
me insiro no espaço
e nem sempre sei conciliar o ser com ele
nele é que me faço entrar
ser movimento mudo
recolhendo delicadezas e dores
guardando sabores e repulsas
arrepios e murmúrios desarrumados
nos bolsos internos
ele me despe para o mundo
e me torna ele
me faz estranhar, desumanizar
me lança para longe
desmonta, me perde
às vezes consigo reencontrá-lo
e ser cúmplice em qualquer investida
às vezes consigo tocá-lo
ser cavalo e homem
espada e coração
às vezes ser nada ou ser uma liberdade incandescente
às vezes nem sei o que fazer com tanto
com tudo o que não serve em um momento
este corpo educado devia saber que não cabe
devia saber perder ou apenas permitir isso
isso é quando não se sabe se é ele ou nele
é preciso apenas ser amigo do mundo, talvez
cada vez mais íntimo
amigo do corpo e do mundo
amigos nunca têm uma razão de ser
basta saber que existem
basta reconhecê-los
melhor não saber muito sobre esses amigos
apenas ir com eles
porque é melhor passar assim
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