segunda-feira, 27 de março de 2017

Cavaleiro inexistente





















hoje
palavra que desliza lenta
às vezes
às vezes avalanche

Pronome
que confunde suas pessoas
um nós que parece eu
um tu que parece eles

verbo
que parece não se mover
no mais profundo estar
permanecer...

hoje, eu estou
tão fora do tempo
tão dividido
e incompreensível





quarta-feira, 15 de março de 2017

esquina





mais uma esquina do mundo
parece única
por que é esse meu ponto de vista
que não é o único
mas é o que tenho
assim será o mais importante do mundo
não do mundo, mas do meu mundo

as esquinas se parecem
mesmo ângulo
sem serem as mesmas
pois sei que nos escapa tudo que é único
tudo que para muitos quase não tem importância

queria ter mais caminhos
como se pudesse caminhar neles
e descobrir coisas novas
mas saio carregando mapas
que desejo voltar

mesmo  essa rua sem saída
me parecia um caminho sem fim
um começo
o meio de encontrar
minha casa
meu lugar
meu endereço

e agora
parece que moro na rua
sem casa, sem quarto
sem cama
e parecia tão meu aquele lugar,,,







terça-feira, 14 de março de 2017

Segundo copo






o segundo copo...
fico olhando-o
como se fosse uma outra pessoa
em frente ao meu
onde me transponho também
em esmalte, cristal ou apenas um vidro qualquer

personagens sobre um palco
mesa singela
na qual espero me alimentar
matar a sede de um corpo vazio
por um segundo que seja

enchendo do que for para o momento
de cerveja ou vinho
de café ou água
de qualquer coisa quente
de algo frio, gelado
algo que evapore, transpire
que mude o gosto
em qualquer estado

basta apenas que seja
um outro copo
um outro corpo
ao lado










quarta-feira, 8 de março de 2017

poucas palavras





ainda não sei "pra que poetas?"
inútil a poesia, talvez
de poucas palavras
como seres que só sabem de si

palavras tão incompletas
como todas as vontades
fora das linhas
fora dos trilhos

pra que ruas, também
se tantos desencontros
andam por todos os lados, por aí?

fugir... inútil
por ruas ou poemas
perdidos, desorientados
fugir como o violeiro foge
na canção
nos tons
e nos dedos
os medos







quarta-feira, 1 de março de 2017

Devaneio














esquecemos tanto
a cada dia
do aroma que evapora
em tudo que é dito
com encanto de sorriso
em cada palavra
em cada vírgula desenhada no rosto
no canto da boca

será coincidência
o céu ter a sua essência
ao ver na nuvem branda
que só de olhar
muda o tempo da vida
e nos faz respirar?
um azul que invade o peito
como se pudesse voar

esquecemos tanto
de como a pele desperta
com o simples leve toque
esse jeito mudo de falar
bem mais do que pode a língua
bem mais que um poema
sem nada faltar

um corpo só
é um monólogo quieto
um grito sem eco
na gaiola do peito

tão presente é a incerteza
se esquecemos tanto
como algo que já foi vivido
ou terá sido sonhado
ou num devaneio, imaginado

misteriosa lembrança
essa que insiste sempre
forma estranha de se encontrar