quinta-feira, 26 de julho de 2012

.....



















quando tiver tempo
pensarei comigo...
apenas eu sem que o tempo marque o compasso
sem que ele cadencie minhas palavras que dialogam comigo
sem que me conduza
nesse momento serei o tempo
reinante em silencio de flor
e tentarei me situar no mapa da vida
saberei claramente o que me confesso
o que me digo gostar
saberei eu
enfim..
e quando voltar
uma coisa saberei, também
que me calarei para sempre...


domingo, 22 de julho de 2012

Casmurro






sustenta...
um tempo de pedra
um muro de grandes vazios
sempre a imaginar o outro lado
sempre a tocar suas paredes
onde possa desenhar seu nome

aguenta seu olhar que recua
e esquece teu retrato de criança
visita esse campo que se esconde
no pó da estrada
repara tua fera
a ira é um canto de saudade
lembra...





segunda-feira, 9 de julho de 2012

Meu sertão



Quando falo sertão
Minha voz ecoa nos cantos de meu peito
Como numa sala vazia
D´um casarão abandonado
No fundo do sertão, casa de fazenda
Como o vento que faz redemoinhos pelo chão empoeirado
Sertão d´um tempo esquecido
de estórias que só as nuvens contam
Vidas de couro
De tempos de horizontes azuis
De silêncio agreste
Conversas de garranchos
Chispados pela ventania
Como o som de um mar
Um sertão que é em volta
que é laço e tronco
Silêncio de rosto de vaqueiro
Descanso de jornada
Cavalo reclinado na porta da venda
Único lume bailando formas nas paredes
Alumiando as "idéa" que pinga
Até que a hora se deita
Noiva dos solitários tropeiros
Se junta e entra 
Pro fundo de nóis...

(em viagem para Caetité...)

sábado, 7 de julho de 2012

Anti-poema




Sem poesia
Mesmo saltando assim para próxima linha
Dando essa forma, enganosa
Devo rir de quem pensar que é algum poema
Mas a força da "forma de poema" é tamanha
O ritmo das frases
Dissecados por estas minhas palavras
Como um espelho, com olhos de um analista
Só querem assustar a quem ler
Apagar qualquer significado que se forme
Não é poema, é um buraco
Apenas cavando um buraco com palavras
Nesse monte de terra sem nada
Cavando com muita energia
E nenhum raciocínio
Nenhum sentimento, ou talvez um sentimento revolto
Cavar estupidamente...
Não permitir o sentir um poema
Escrever des-escrevendo
Não é nada
É cavar e criar vazios
Até que me caiba
E me tornarei semente

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Viagem





Subo...
Algumas moedas sujas no bolso
Sem a certeza de jogador para escolher o assento
A sorte corrompeu-se demais de realidade
Café de posto
Gosto de sobrevivência
Lenta como os fios que crescem no rosto
Uma questão de tempo
E tantas questões perdidas
Tantos balcões
O doce que já acompanha
E quantas bocas já beijaram esse copo
Seguindo
Volto para o número par
O carro ja vai buscar
Como animal de carroça
Um outro abrigo da estrada
Berço dos retirantes
Barca das almas secas
Morada de errantes





Elevado





Chegar...
Apenas...
À dimensão que ocupamos no elevado
Ou será que as escadas nos transportam com suas asas?

Até o outro é o mais longe que se pode ir
O caminho d´um poema
Nos fazendo curvas
Inventando paisagens
Abrindo cortinas
Como uma camisa abre um peito
Como um livro aberto, abre-se uma janela
Como um livro fechado, fecha-se a porta
Chegar
Sentir o silêncio do mundo que se apaga
E nada mais
Nesse meu lugar nenhum...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Persona





o invisível oculto,
dentro...
sombra que mancha profunda o outro lado da face
como as construções palacianas escondem as mãos rudes
um fantasma  que não teme o esquecido
reclina-se ao chão
volta ao seu lugar inverso
vulto de sentimento
encerra em si o instante
e canta sua ária no tácito sorriso
silencia seu olhar no azul do orvalho
faz-se comum
segue destronado
e encontra teu iluminado