domingo, 25 de novembro de 2012

Apenas




Queria te tocar
Com o indecifrável dos meus sentidos
Que não transpõem do corpo para um além imaginário

Tocar com um silêncio de escultor
Com a entrega das mãos que mergulham no barro
Como mãos de cozinheira
Tão rudes a preparar o sublime
Sem saber como tocar o próprio rosto

Queria deixar minhas mãos leves
Lentas como o azeite
Para te alimentar dum calor sadio
Como criança que só sabe o mais perto
Inteiramente nua para receber a primavera
Com o intenso dos odores
O brilho em sua pele
E banhar-se  inteira
Depois adormecer...


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Kunderiana


                                                                                                                                                   foto Carlor R.



Alma fatigada pelos excessos de uma vida reta
Transporta o dobro que aguentam os braços
Quando ainda mesmo cheios os vagões
No obstinado caminho
Das implacáveis estações
O inquestionável move-se
Retumbando uma nação de palavras
Que apelam a essa maltratada vida
E presenteiam elos tão estranhos

A devoção que pertence aos esquecidos
A coroa dos amores decapitados
A revolução que encobre as verdades
Que não cabem nessa língua
Que não protestam
Que estiolam em cantigas

Ser andante descarrilado
Teu cigarro suspira
Desalinhado
Na pausa de tua nudez
No contentamento dos pobres
Na grandeza da noite de um mísero catador
Na brincadeira dos cães
Por um olhar maior
Um silêncio maior
Pra esquecer a contagem
Pra desaprender de vez
Pra caber as roupas sujas duma viagem
Pra certeza do quanto sustenta um sorriso





sexta-feira, 9 de novembro de 2012

sinos





Ainda ouço os sinos
não aqueles das cidades de Minas
aos ouvidos de Drumond
e das beatas que neles se consolam
na solidão da fé
na chama que eles acendem n´alma
caminhantes pelas ruas de pedra
na villa da serra

Mas ouço aqueles pequeninos
que não deixam, no mato e na mata
perdidas as cabrinhas
as teimosas que insistem em novos caminhos
nas alturas e nas lonjuras
onde as gardênias se escondem
do destino de jarro
sem sair do lugar

Ou serão os sinos como flores
com pétalas de sons
ornando a esperança
pontuando como botões que afloram
num compasso de desejo
um dia cor
num outro a dor
um dia chamando
noutro um adeus...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012