sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Estante, instante





No fim
São palavras...
Foram palavras apenas a encher de cores o vazio

Se fico envolto na pausa
Em pensamento ávido para ser cantado ao mundo
Não há palavra que me cesse

Mesmo sendo as horas como um livro na estante
Sem o voo das páginas abertas
Palavras apenas, desertas

Uma delas bastaria...

Uma que me vestisse de calafrios
Que me cuidasse o tom
Pra dizer o simples que me reverbera
Palavra, pra dizer o muito
Um quase nada sem fim
Para o fim da espera...



domingo, 10 de fevereiro de 2013

Carícia de veludo




quando eu for embora
não será meu nenhum dos meus passos
nem escolherei a direção
como os ventos, confusos nos caminhos e casas da vila
que não se vão sem que tenham acariciado as plantinhas do quintal
sem que tenham entrado em sua janela e veludado seu rosto
com o frescor das sombras do Muiarobi

quando eu for embora
será minha essa outra razão que não vive meus sentidos
será um ir embora como são as ruas e as estradas
apenas aguardando o primeiro passo
para garantir a existência delas
não importando o que eu leve na mala
nem o valor da bagagem que me condena

quando eu for embora irei errante, entre moradores
tropeiro, servo do caminhar
irão ciganos os meus dedos e minhas mãos
exilado dos céus de estrelas do meu quintal
o meu olhar
que se fechará como um abraço
pra permanecer no eterno e imaginado



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sempre




Quem dera, quem dera...
Primavera,
Fogueira, quem me dera...
Dará flor, no frio
Espera, aqui dentro, tão pequenina 
Lá fora, o impossível
Agora, o improvável
Depois, o depois
Antes, o sempre...





segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Mais um dia





Digno é o sono do lavrador
Que se deita como o horizonte
Sereno como a terra
Silente como a estiagem

Quando lhe assenta na expressão do rosto
Desenhos de areia de fundo raso de rio

Mansa, a fera que o habita
Como uma outra vida
Como num outro mundo nesse

Um silêncio amado pelo corpo
Ternura inocente e breve como a madrugada
Suas mãos abdicando de sua força
Sua jornada que te espera

Mas ainda é noite e estrelas
Ainda é sonho








sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

despertar do mundo





meu lugar não é longe
é volta e simplicidade
um pouco onde tudo recomeça
recomeços instantes...

um caminhar que se perde, livre
por vias retas, seguindo em curvas
saltando muros
subindo em árvores...

lugar meu é perto
é chegar
com o mínimo que for de mim
restauro de mutilações de um dia
do que falta
do que me cabe
e insiste a cada dormir
a cada despertar do mundo