sábado, 31 de agosto de 2013

Partido Alto (samba enredo)





Rio de você
Que não se molha nessa idéia
Que não está de braços abertos
Que tá doente do pé
Que samba seus conflitos
E chora na roda musical
Que não notas
Não violas os laços do Bomfim
Seu riso de muletas
Seu peso e suas asas
Deu branco na razão
No fole furado do coração
Te rio, Rio seu, rio de você
Rio de todos
Rio meu
Olha o Boi da Cara Preta
No carnaval de desalinhos
Num enredo de Arlequim
Dó sem penas, travesseiro
Sonhos, linhos
Teus queridos, suas mãos
Mamulengos os teus pés
Entre a terra e a areia
Descalços e finos
Pela chuva
Seus caminhos limbos
Seu mar e seu sertão




domingo, 25 de agosto de 2013

O Lado de Fora




Que seja...
Um mundo que se conspira com requintes de algo justo
De portas abertas para entrar
O bom, o mal, o falso, o perverso e a esperança...
Junto com poeira,  e algumas folhas secas
Entrar na casa vazia da cidade
Entrar no jogo
Entrar na mesa
Entrar no pão e no pano de chão

Vestir-se de imagem e dar-se por satisfeito
Na cena da obrigação
Com o escudo, por direito
Sem espelho, por necessidade
Recoberto das malhas de tramas que cobrem a carne e as manchas da pele
Armadura da nulidade, por necessidade

Que seja o que não é
O que institui como vagão em movimento
Carga e destino, que nem sei, destes convidados
Que não sabem que apenas os sentidos é que podem se fartar
Que o corpo é toda sua vida possível
Toda carga que é sua, apenas
O nu, todo seu
Mas, que seja assim mesmo
As voltas dessa tonteira
Só não me vistam dessa vontade
Não me cabe nem me diz como me dizem os desatentos
Os que vivem nus e não sabem
O velho trabalhador e sua terra vermelha
Os relevos de seu rosto
Os des-infantes
O vendeiro pobre que me serve a bebida à beira da estrada
Lá onde fica o banco, à beira da estrada
Exposto ao tempo e onde o tempo parece não existir como o sentimos
È tudo que preciso
O lado de fora

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

solidez e solidão








não quero sentimento
quero uma pedra
com forma, tamanho, peso e substância firme
compreensível
inteligível a ponto de ser apenas pedra
não uma pedra preciosa
uma qualquer, senão não será mais a pedra que preciso
não a do escultor, essa não serve
tem que ser uma pedra que não sirva para nenhuma profissão ou poema
que nem sirva para construção
pra que, não sei. mas sei que é a síntese de minhas mãos
uma que seja mais leve que minha memória
menos dura que o olhar
que me afague
que flutue no mar
ou que me petrifique, me desfaça do João para o pedro
que ninguém possa riscar um nome
que me ensine a falar, em minha boca
palavras mais certas que minha vontade
que se quebre, multiplique até o pó e a nuvem
que me atire para bem longe
da dura razão,
da lógica
e do coração






sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Banquete de Joyce







A qualquer momento acabe a minha vida
Menos ou mais...
Viver é toda conta possível durante mim
Não mais que o tempo de um inseto ou de uma estrela
A permanência pulsando morte e vida
O espelho dos sem rosto
O contorno comum dos tortuosos
Das suavidades e dos terríveis
Assombrando a casa futura
A que morde e canta
O que range e sorri
De um lado a outro, aurora e crepúsculo
Com olhos de sol e lua
O café e meus dias sobre a mesa
Minha fome macia e meus caninos
E um menu de sonhos em minhas mãos ...