sábado, 23 de maio de 2015

Sorriso







era uma noite de rua
toda em paralelepípedos de nuvens
e céu de Van Gogh

e nela foi o abraço de sangue corrente
o toque de mãos fluorescentes
olhar vivo de brilho agudo

era apenas a existência
e tudo que é intransponível ao corpo
era uma vez eterna 
uma resposta
tão simples como panelas penduradas na cozinha

a grande obra d'um anonimato
na brevidade 
instante em que todos os problemas foram resolvidos

beco perdido
a plenitude em um banco de rua
agora guardado
como a mais bela tela na escuridão da noite
de rara visitação










quarta-feira, 20 de maio de 2015

Telhado e céu




O tempo passou como uma ventania
essa rajada, essa boca de vento
aqui mais perto, levantou a poeira
e descobriu um pouco, coisas esquecidas

exposto ao tempo
exposto à existência
esse olhar congelado sobre essas coisas
trouxe aroma dos campos, duma primavera imperceptível
das primeiras flores dessa terra de duas estações
e olho essas coisas como se fossem dois tempos
o antes e o agora
é duro o agora ser o depois

não se deve ver a vida assim, tão esticada
nem deve esticar assim esse pequeno corpo
esse ponto que caminha entre as árvores
que caminha sobre a terra
esse olhar agora para o céu
imenso céu, repleto
ver o grande vazio da imensidão
como o infinito dentro da gente quando olhamos para o céu

esqueço, lembro
mas guardo essa vontade de esquecimento
como um telhado que espera  sol, dia, noite, sereno...
e vez em quando uma chuva
depois, a ventania secando as telhas
suspirando o frio 
e o raiar do dia