quarta-feira, 19 de abril de 2017

estorinha pra dormir





nada mais belo que o olhar brilhando duma criança
acreditando em uma estória de mentira
como uma pequena fogueira no meio da noite
como a primeira estrela
e ela sorri
porque crer nessa estória
é vencer o impossível
será o amor uma crença?
uma estrela?
uma fogueira?
talvez seja o coração uma criança....





segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sobre a mesa




tem seres que nos roubam absurdamente
roubam nossos filósofos
o céu e todo universo admirado
canções
desejos
tantas coisas...
porque todas elas
tornaram-se metades

nem o tempo e os pensamentos escapam
tornando tudo um grande vácuo
tudo isso sem nada sair do lugar de fato

talvez sequer tenham roubado
não.
nós é que perdemos
o caminho de reencontrar as coisas

apenas apostamos alto e perdemos
e as cartas já não estão sobre a mesa
mas o jogo sempre vai continuar
até depois da meia-noite
novos apostadores talvez
mais fichas
para lançar
para dobrar, perder

para cair...





quinta-feira, 13 de abril de 2017

Cinzeiro



deixa ir
sem que ficar seja um adeus
sem parar seu mundo
sem se separar do mundo

imóvel ainda
no instante que pesa
que não sai
que não vai

cerca por dentro
o medo da permissão
de soltar a mão
de mudar

é assim
como as cinzas do que não queimou
um calendário sem ter sido usado
sem pequenas marcas nos dias

e só bastaria ser simples
ser leve
bastaria apenas deixar ir




Casa





porta aberta
encostada
por onde entrou um raio de luz
pela fresta, um fio de luz
feriu como um amanhecer

era para ser visita
deveria ficar na sala
e não esses passos adentro
para os cantos de quem mora

não devia saber o linho
das nuvens do lençol
nem era para este céu coberto
de tantas tempestades
abrir-se em flor nessa manhã

na morada silenciosa
não se segura um alvorecer
ora dia, ora noite
agora, casa sem teto
cômodo vazio

trancas rompidas
janelas estilhaçadas de olhos turvos
tudo fora de lugar

apenas um lugar
marcado como uma fotografia
para se guardar





terça-feira, 11 de abril de 2017

Seu quintal





não me permitiram entrar no seu quintal
tão pouco entrar na sua casa
assim fiquei do outro lado da rua
lá estava aquele lugar impenetrável
revestido do meu olhar

mudaram minha rota
com o cuidado e a precisão que tem o desencontro
espelho intransponível que guarda dentro um outro mundo
meridiano que separa a fortuna duma pobreza
fronteira de outro país
e eu estrangeiro sem ter mesmo imigrado

cruzar a rua
quebrar o espelho
invadir
qualquer forma será proibida
será uma contra-mão para esse cavalo solto na rua

um dia ainda pego o acaso distraído
e inventarei um salto que só a leveza permite
que só o esquecimento pode abrir passagem
para enfim errar mais uma vez