passamos por muitas coisas
por assombros anunciados
como uma população em travessia
numa trincheira de miseráveis
cruzando pelo meio de uma guerra
foi banalizado o pavor
normalizada a estupidez
tornamo-nos vulneráveis de vez
era insegura a rua
e temerário dizer o que se pensava
mesmo numa mesa de bar
fomos sufocados pelos odores de pensamentos podres
ameaçados por abutres famintos que espreitavam nossa alma
esparramados na capoeira como cangaceiros em fuga
apagado o lampião na noite sem lua
sim
subtraídos dos ares
daqueles que nos inspiravam
como se quase não tivesse jeito
nem mesmo as manhãs nos renovavam
nem as madrugadas nos serenavam
e hoje, depois da guerra vencida
depois da poeira assentada
vejo meus amigos como veteranos
rotos, combalidos
talvez ressignificando os passos, de muleta
na cisma sobre essa vitória
com a suspeita de vulnerabilidade de uma fantasia
tão longe, cada um, dos seus
com tantas cicatrizes nuas
vejo-os, estranhos, mudados, acovardados
com os sonhos pisoteados
nessa aurora do lixo virtual
meus amigos...
e tudo que precisamos, talvez
é de um simples e desorganizado sarau