sábado, 30 de junho de 2012

....







Ho detto al vuoto, che ho amato voi
Ho detto per le strade deserte, ti ho amato
E dentro di me diceva: mio amore ...






Adeus







pequeno homem
muda de vida
a poesia do corte abre caminhos estranhos
com a virtude
com o sabor metálico das mãos
com o riso e a dor
olha o monte
a pedra
o céu
o amor deve pairar como as nuvens
acima do mundo
como o teto das igrejas
como a melodia que sobe
pequeno homem
a vida mudou
o passo
a passagem
o adeus
sejas fogo
sejas a lua
muda
desteme seu caminho
vai sozinho...




quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cavaleiro inexistente






E o corpo continua a dizer "frio", para o que é frio
 E "quente" para os calores...
Mesmo que dentro, habite em pensamento
No sentimento, a maior das dores
Continua ainda assim o corpo
Em paralelo...
Obediente
A traduzir o mundo 
Entre esse abismo do real e do profundo
Corpo, vida... amado...
Por que é o amor além 
Para além da única condição possível de vida,
Corpo?







terça-feira, 26 de junho de 2012

Cantiga








Minha fortuna de garranchos, pedras e estio
poucos lugares
velho sofá junto à janela
fim de caminho à beira da lagoa
imenso nada
meu capucho de algodão
pequeno livro que o vento folheia
além da a serra longe vai minha memória enriquecida
em cada pouco, o bastante
a sombra amiga,  a estrada
a espera
a cancela
e o nada









segunda-feira, 25 de junho de 2012

Velha estante






Velhos livros
Tanto tempo fechados
O tempo de uma vida
Silenciosos 
Esbeltos como templos
Em ruínas como o eterno
Somos tão fechados quanto os livros
Estante da infância
Muro dos conhecimentos
Corredores mágicos onde me escondia, em miniatura
Onde se escondiam meus personagens
Entre esses imensos blocos 
Que agora vejo 
Me assustando reconhecer seus nomes
Quando nem sabia ler direito
Mas sabia brincar com eles
E me arrancam do tempo
Apenas em vê-los
Sem que seja preciso nenhuma palavra... 









sábado, 23 de junho de 2012

Parsifal







A espera é a própria guerra...

O tempo são golpes de espada apurando o cavaleiro

Ainda protege dentro da armadura
Um coração de leão
Uma alma de ovelha
E a solidão dum vale

















quarta-feira, 20 de junho de 2012

Miniaturas do olhar







não soube levantar meus olhos pra ver seus objetos
como se meu olhar fosse invadir, intruso, um mundo além do meu
um além  mais antigo, de antes, nesses tempos que são intangíveis
que abrem uma memória sem os delírios instantes
um limiar de simplicidades
como peça que esconde a chave de uma transformação
como qualquer objeto seu sobre a mesa

a esfinge ainda paira sobre os tebanos...
assim como paira o ignorar de cada dia
o grande silêncio do estrondoso ruído do mundo
que veste a nuda alma de cada, toda, pessoa
como um rio que corre sem que digamos: corra!

e agora, confrontado entre a incerteza da vida e a beleza da existência
não sei em que lugar devo pôr  as minhas mais preciosas miniaturas
para além do tempo de além
um além meu
que sabe a intensidade do entendimento de sábios desconhecidos
e teme a proximidade dessas misantropias

não soube manter meu olhar em qualquer mínima peça,
porque queria tecer abraços
pelo portal, de cada uma, que se abria
e sim... não consegui olhar, apenas...
(tanto que queria...)



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Beleza










Que é do amor para os que sofrem no corpo?
Amarga o doce das palavras
Os raros requintes não pintam cores de horror aos que padecem?
Não será inútil a beleza?


Talvez...


Ainda que não possam saborear o beijo, os que tem fome
Nem saber o belo, diante de uma perda imensa
Mesmo assim, importa ao espírito ir além...
Banhar o corpo num rito solene, mísero, mas verdadeiro
Ainda assim importaria dizer
Que "viver não é pobreza"
Que é preciso invadir a ferida e corromper os sentidos
Trair a fatalidade
Com um amor doentio 
Sempre a proclamar a vida...









sexta-feira, 15 de junho de 2012

Tango brasileiro



Sempre lhe disseram, seja homem
Seja homem, seja mulher
E eles sempre repetiam,
Por aqui é bem melhor
O azul do teu caminho
Abre o céu que o dia traz
Embora a cor de rosa do final da tarde
É flor da noite que enfeita teu belo vestido
Para o teu marido

Rainha da noite de céu estrelado
Seja homem o luar
Seja mulher a lua
Seja o português
Seja a guitarra ou seja meu violão
Seja a música que toca-me
Seja minha canção

Será que o sentido nasce em todo lugar
Onde, então, terá nascido esse mar?
Ou será a natureza uma coisa só
Será com certeza apenas um par
Um casal de flor e espinho
Rosa do balcão de bar

Dança o teu contrário
Vestida de azul
Teu caminho, uma passarela
E te chamam de "Flor-Bela"
Com a fita de Noel
Que enfeita teu cabelo
Que enlaça meu olhar
Dando voltas de refrão

Toca o trombone
O violão sete cordas
O pandeiro e vem dançar
O meu tango brasileiro
Vem que Moura vai tocar
E já ficando lá, de fora
Vai ficando, eu vou embora
É hora de voltar


quarta-feira, 13 de junho de 2012






voltamos a cada noite
para o horizonte poente dos olhos...
cerram e se acendem trêmulos
como a luz dum candeeiro no ermo escuro da sala
como o nosso amor que definha
cintilante candeia perdida
sob o imenso céu estrelado...



domingo, 3 de junho de 2012

fim do mundo







Apenas um banco de madeira
Nada bem feito, mas feito com o desejo de ser um banco
Ali...
Onde podemos sentar e somente ficar olhando a paisagem
Olhar um vôo e unir o vôo à música
Banco onde sentam meus amores
Onde assento tão belos momentos
De onde Van Gogh pintaria uma tela
Também um Priciliano ou Portinari
Até eu mesmo me arriscaria escondido deles
Só pra dizer que foi pintura
Esse quadro impecável
Que pode mudar de cor
Azul, prateada água
Terra argilosa
Casinhas, árvores em suas estações
Num lugar, esse banco, onde não há mais caminho
Somente sentar e ver quem está ao lado
um lugar tão nosso
um lugar tão singelo
um lugar que parece ir a muitas partes singelas no mundo
um lugar que quero para sempre....