sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Viramundo




porque nos lavam a boca
nos enquadram repetidamente
nas mesas sem saída
e medem as intensidades
da alegria
do prazer, mais que sabido
o efeito é todo o sentimento
o jogo que resume essa vida
que já tem a resposta
o projeto e o silêncio do método e seus motivos
o todo que se move
a complexa maquiagem que nos brinda aos olhos
que nos assegura
a complexa estrutura que se mantém
sobre esses pés de barro
nessas maçãs ocas
nestes cenários que enchem o mundo
que ocupam a intimidade
que rimam nossos pensamentos
que afinam nossos ouvidos

porque o "tem que ser" é maior
como a onda do mar contra seus braços
e sabemos disso quando ao estranharmos o corpo
frente ao espelho, antes do banho
quando ignoramos aquela imagem
em todos seus volumes, com desconfiança
quando percebemos ainda o cair da água na pele
até o instante que o banho se torna um banho,
normalmente









quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

quarta dimensão



Espero a calma
mesma da fumaça lenta do cigarro
bailando na penumbra deste quarto
ao fundo, apenas silhuetas de objetos esquecidos
a cor sépia de um tempo eterno
que desdenha das horas

permito a música
em cachos de melodias nuas
dando voltas
tocando paisagens risonhas
profundas e vagabundas errantes
com ritmos ancestrais na flor de meu sangue

permito o vinho
que derrama seu gosto
e exala nesse espaço plano
a nuvem que me cobre do sol que é o mundo lá fora
um quarto estado, uma vida dentro da vida
enchendo a taça do espírito e do corpo

permito esse copo pequeno
de perfumado café
pra manter acordados
os sentidos simples que necessito
pra beber a sua força
sua cumplicidade com as mentes inquietas
e com os assuntos perdidos

permito esse encontro
que mistura essas cores
que mancha, desenha, inesperadamente
que torna o existente comum
no incomum de cada instante
que torna imenso os mínimos
do bem da vida