segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Estação do ser

Sonhei uma certa feita que os dias eram corridos. As horas corridas, passos contados, tudo medido. A cada momento os andamentos mudavam, mas mantinham sempre um acelerar e um diminuir em cada movimento e sempre uma parte ao meio que permanecia constante, como uma máquina, sem alterações. E cada vez mais esse motor me encarnava, no gesto, no andar, no falar... no pensamento. Tudo se tranformava em máquinas, no que pude por um momento me desprender e observar, um pouco, à margem, a mecânica da vida. A harmonia tácita dessa prisão de três dimensões... Parecia que tudo tremia com o movimento. Que meu corpo era um conjunto de partes ligadas, sendo conduzidas por essa mecânica invisível. Uma força, como a de um trilho que condiciona um trem numa linha. E nenhum outro objeto seria mais parecido comigo que um trem. Meu corpo era um trem. Minha cabeça era uma casa de máquinas aquecendo e suspirando idéias, apressando pensamentos, devorando imagens como uma fornalha, além do corpo com as óbvias similaridades para além de uma semiótica das metamorfoses. O som ensurdecedor se agigantava tanto mais eu o percebia. Mas, reparei, por fim, que não era meu o corpo. Eu era apenas um passageiro a transitar por entre vagões, como quem vive momentos e lugares. A contemplar, apenas contemplar, paisagens que se perdiam a cada breve momento. E percebi, com imensa felicidade, que eu não era máquina, mas a máquina me possuía enquanto eu acreditasse que aquela era a única viagem possível. Tudo que eu precisava, não era destruir o trem. Bastava-me saltar na próxima estação...

3 comentários:

Anônimo disse...

UM DIA TODOS IREMOS SALTAR NA PRÓXIMA ESTAÇÃO, MAS NÃO PRECISAMOS NOS APRESSAR. ENQUANTO ESTIVERMOS NESTA VIAGEM, DEVEMOS CUIDAR DO TREM E MANTÊ-LO NA LINHA, POIS SE ESTAMOS NESTA VIAGEM É POR ALGUM MOTIVO, POR ALGUMA RAZÃO. QUEM SABE... PARA CUMPRIR UMA MISSÃO.

João Omar disse...

Mas uma viagem tem muitas paradas. E qual é o melhor caminho, dos trilhos ou dos nossos pés? Saltar, sim, saltar. Por uma motivação louca...

Anônimo disse...

João, concordo contigo. O melhor caminho é aquele que podemos caminhar com nossos próprios pés, amando, antes de mais nada, a nós mesmo. Logo, sem nos destruirmos.