terça-feira, 13 de junho de 2017

Roubado





fui roubado mais que o devido
por muitos ladrões impunes
esses ladrões invisíveis
que entram pela janela, pela tela
pelos olhos e ouvidos

roubando o precioso tempo
quebrando memórias
que estavam cuidadosamente guardadas
como objetos delicados
mas que pra esses ladrões não têm mesmo valor

roubaram a inspiração, a idéia
o gosto, a alegria
justo por eu não manter a porta trancada
o portão da rua fechado
o cofre do sentimento segredado

e fico a pensar
será que saberão o que fazer com o que foi roubado?
terão o cuidado com cada uma das coisas
cada uma das imaterialidades
que valor as tornará?

levaram tanto...
nem as palavras como amigas me restaram
para conversarem comigo
para consolarem esse réu nessa solitária
sem lei, sem direito, sem juiz

queria que fosse como um livro roubado
que quem roubou mudasse a vida com a leitura
que virasse a página

mas nem sempre temos a sorte
de um bom engano
de ficar na mão
de ter sido feito por um bom ladrão






3 comentários:

Anônimo disse...

Primeiro peço desculpas se acaso causar algum sentimento negativo.
Mas não poderia de aqui deixar de manifestar... entenda seus leitores, seguidores eventuais ou não... se aqui se manifestam, identificando-se ou não, certamente é porque suas palavras as tocam. Seja musica, texto, poesia... quando alguém recebe as palavras ativam suas próprias lembranças, as quais podem ou não ser o que quis passar o escritor. É inevitável. Só não precisa ser rude e fazer pouco caso, desmerecendo o tempo gasto delas, até porque não sabe o sofrimento que carrega cada pessoa e seus motivos. "Você é responsável por aquilo que cativas" (o pequeno príncipe).

João Omar disse...

Serão sempre bem-vindos os comentários, as leituras... Como disseste, cada um entende dum jeito próprio, sim. Aqui, é mais a sensação de ter sido subtraído do que mais precisava... Não pelo outro, mas por um outro, por alguma força, circunstância... E o tempo perdido é o tempo sem o que mais se precisava e não o tempo que passou com o que agora faz falta. Para a poesia, a metáfora, tudo é tão amplo, assim como os sentimentos que não cabem nos textos. É uma janela por onde podemos imaginar coisas indizíveis sem ter que descrevê-las. Deixo a pergunta, quem está na primeira pessoa?

Obrigado!

Anônimo disse...

Alguém que busca aproximar-se de si e buscar alívio, assim como você.
Alguém que se identificou com seus escritos, claro que com relação às próprias vivências, as quais são diversas das suas.
Alguém que te admira pela maneira com aqui escreve, mas não está em seu ciclo de amizades.
Alguém que tem um turbilhão de pensamentos e sentimentos, mas que não pode dividir com ninguém e busca solitariamente ajustar os ponteiros de seus conflitos internos.
Alguém que não fará mal algum a qualquer ser... não tenha receio.
Alguém que não invadirá sua vida nem seus escritos...
Peço desculpas pelo anonimato, mas é preciso.
Perdão pela interferência inconsequente nos textos deste blog.
Não importa o "nome" de quem está na primeira pessoa.
Preciso do anonimato por mim... só por mim.