quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Passarela

 


é hora de dobrar a esquina

antes de ser atropelado pela desistência

é hora de trocar a cidade pelo vilarejo de dentro

aquele abandonado, empoeirado pelo tempo

esse velho endereço escondido pelo futuro

este monumento que não é invulnerável ao tempo


talvez seja necessário transportá-lo para a metafísica da arte

que é onde se pode eternizar uma flor, mesmo que passem muitas estações

ingenuamente, mas, com simplicidade

e desde que ao revisitar essa representação lhe venha um sorriso


é hora de não ter hora certa, de dar tempo

e ser como o tempo que muda

tornar inevitável o ser para além de qualquer modelo

para além do olhar de todos que estão aquém do seu

olhar esse, talvez, perdido

que espera tanto algo acontecer

esse que nem se vê

nem mesmo diante dum espelho

olhar de pedra, paralelepípedo

nesta via sem passarela