quarta-feira, 11 de abril de 2012

Olhar de Lucrécio





Suave e imenso mar...

Movias, arrastando tudo em volta
Meu mundo se perdia
A cada passo, estendia diante de mim
Uma caminho de pedra nua
Rua de prata brilhando em meus olhos
Como uma espada fria...

( atravessou-me aquele momento...)
Tudo mais se revestia de costas para o mar

Talvez fosse apenas eu que deslizava meus passos
 como uma barcarola
Asverus marinheiro comum
Para longe duma redoma impenetrável


O separador de mundos
O brinquedo imaginante...
Máquina do mundo.
Engenho da Bahia
Um mundo-ilha

Aquela barca,
Incontável entre os ancorados...
Nem era eu que mirava da praia as naus em chamas

Nem percebi
O esplendor daquela tarde

O imenso e eterno céu
O incandescente crepúsculo
O Porvir sem tempo
Nem a carícia do momento
Tão suave em meu  rosto de pedra

5 comentários:

Anônimo disse...

"Soave mari magnum..."

João Omar disse...

"Agradável é, quando no mar imenso os ventos revolvem as águas,
de terra assistir ao imenso aperto de outrem;
não que a desgraça de alguém seja deleitoso passatempo,
mas conhecer os infortúnios de que tu próprio estás livre, isso é agradável.
Agradável é até contemplar as imensas competições da guerra, 5
dispostas ao longo do campo de batalha, sem que seja tua uma parte do perigo;
mas nada há de mais agradável do que habitar as elevadas
planuras, serenas e erguidas pela ciência dos sábios,
de onde podes olhar para baixo e ver por todo o lado os homens
errar em busca de um caminho para a sua existência transviada, 10
a competir em talento, contendendo por honrarias,
sobrecarregando-se noite e dia com a tarefa de todos superar
para alcançar as maiores riquezas e sobre as coisas dominar.
Ó míseras mentes dos homens, ó cegos corações!
Em que trevas da vida, em quantos perigos 15
se consome a existência, invariavelmente breve! Não vês"

(tão mais sonoro em Latin e tão atual...)

Anônimo disse...

Como Apollinaire tu fala de batalhas pra falar de amor, como se a violência deste instante, pudesse apaziguar alguma dor.
"E vai-se o amor como água corre atenta
e vai-se o amor
ai como a vida é tão lenta
e como só a esperança é violenta"
Cante a tua Lou, para que nós anônimos bebamos teu cantar.

Anônimo disse...

Este olhar bem pudera a todo evento simplesmente captar...mas como ficaria, à distância, a nossa alma? Como controlaríamos o intenso desejo de apenas revolver as ondas noutro movimento? E, de tédio não morreríamos apenas na insossa arte de contemplar?
Não vês tu como os maestros são?!À frente postados, contemplando a sonoridade em sua multiplicidade, a tudo ele presta ouvido, nada lhe escapa! E lá estão as mãos, que não se aguentam paradas,mas guiam a intensidade e a paixão deste som!!! E, por mais revoltos que estejam os mares ante a sua visão, aplainam as ondas com um gesto seu e a tempestade se abranda, a calmaria vem..."Agradável é, quando no mar imenso os ventos revolvem as águas,
da terra assistir ao imenso aperto de outrem" ...e quão supremo é da tormenta provar e nela intervir conforme a vontade aprouver!

Anônimo disse...

Há qualquer coisa de sádico nesta tal arte de contemplar as ondas, quando sabemos que o movimento delas é de um desejo desesperado de rebentar-se na pedra... maestros são voyeus e são semideuses, regendo a harmonia e a desordem, de acordo com o movimento de suas batutas, são insanos em sua dimensão de equilíbrio, que muitas vezes parecem sádicos. Nós pobres mortais desesperados e ávidos por este instante mágico em que a música, depois da orgia, tão particular entre ela e seu autor, nos dê o gozo final “... e quão supremo é da tormenta provar e nela intervir a vontade aprouver!”
"A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso,
a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar."
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrivel me exaspera!

Charles Baudelaire