quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

monólogo






estava escrito
e vi desmanchar parte a parte
numa ventania de vapores
de tintas sedentas na areia

o outono desfez a carne
oca a armadura da inconformidade
ainda de pé ecoando uma paisagem exaurida
que renasceu envelhecida

as sementes já não incandescem o mundo
pois se romperam no deserto
nem há mais cavalos de puro sangue
voadores velozes nessas dunas

os vinhos ficaram claros
com o sangue azul
as taças ficaram rasas
emborcadas nesse mundo avesso
e nem produzem mais o som
com o roçar dos dedos em seu lábio molhado

e essas tonturas sem torpor
não entendem nem são companheiras
nem consolam os bebedores
acostumados a afugentar a mente
e a sorrir na tragédia dos rostos
justificando razões insensatas

o mundo embriagou-se de vez de um estranho senso
se inundou de um plasma insípido no céu da boca
entalou-se com suas torres
perdeu o coração do tempo
entrou casa adentro

pior companhia não há
para esse monólogo do desejo







Nenhum comentário: